sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O mundo de Warhol


A fama também estava entre suas prioridades. Em 1962, ele apresentou seus famosos retratos de Marilyn, que acabara de morrer. Era o início de sua obsessão pela cultura da celebridade. A herança da tradição cristã-bizantina – Warhol era filho de imigrantes do que hoje é a Eslováquia – deu força a suas Marilyns e o ajudou em sua consagração. Warhol conhecia a diferença entre uma imagem e um ícone – como aqueles que ele contemplava com devoção em suas inúmeras visitas à igreja. A imagem lembra a ausência daquilo que retrata (como uma foto de um amigo distante), enquanto o ícone bizantino é, a um só tempo, representação e presença (a estátua de um santo é, para o fiel, santa). Ao encher de cores o rosto de Marilyn, Warhol traz para a obra não só uma lembrança, mas a mágica epifania da atriz, como se ela estivesse na companhia do espectador. Isso fez de Warhol um cocriador do ícone Marilyn. E, junto com Marilyn, ele também ganhou status de personalidade. Sua fama estava garantida.
A partir daí, passou a viver a cultura pop até seus limites: frequentava a turbulenta noite nova-iorquina, virou o empresário da banda Velvet Underground, lançou livros e filmes, apresentou programas de televisão, criou uma revista de entrevistas, além de ter trabalhado como garoto-propaganda de diferentes produtos. Factory, seu estúdio, é um emblema de suas crenças. De portas sempre abertas, o local recebia visitas de assistentes, marginais da noite, como drag queens e beatniks, ao mesmo tempo que concentrava a elite artística da cidade, como o escritor Truman Capote e os músicos Bob Dylan e Mick Jagger. Na Factory, Warhol aboliu todas as hierarquias. A criatividade era exercida de modo democrático. No fim, Warhol assinava todas as pinturas e os filmes criados coletivamente. A Factory fechou em 1968, quando uma frequentadora atirou em Warhol e quase o matou. Ele experimentava o lado amargo de seu sonho de glória e fama.
Sua vida foi um laboratório do mundo atual. A democracia vivida em sua Factory, a autoria como um conceito frágil, a repetição e a cultura das celebridades, tudo isso hoje faz parte do cotidiano. Visitar a exposição Mr. America é deparar com a imagem de nossa época, em suas mais variadas repetições.

Ele estava certo
Warhol captou a essência dos dias atuais
REMIX
A ideia de usar um produto já célebre e lhe dar nova embalagem está no cerne da obra de Andy Warhol. A cultura de hoje está tomada por filmes, músicas, programas de televisão e ideias reciclados
MULTIMÍDIA
Warhol extrapolou os limites das diferentes expressões artísticas. Atuou como pintor, escultor, cineasta, produtor musical, escritor e apresentador de TV
CELEBRIDADES
Sua famosa frase “No futuro, todos serão famosos por 15 minutos” se concretizou. Além disso, Warhol negou o prestígio do artista recluso e se tornou também uma celebridade, como tantos artistas de hoje
CULTURA YOUTUBE
Os filmes produzidos na Factory usavam aparelhagem simples, e não atores. O ambiente era de democracia criativa, assim como no site de vídeos YouTube
MANIPULAÇÃO DA IMAGEM
Warhol pode ser considerado o precursor do Photoshop. Em um programa de TV, usou o computador Amiga para pintar um retrato da cantora Debbie Harry

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